segunda-feira, 10 de junho de 2013

História do Brasil: Exumação traz novidades sobre D. Pedro I



O Monumento da Independência, que abriga os restos mortais de D. Pedro e de suas duas esposas, no bairro do Ipiranga, na capital paulista
Cientistas da Universidade de Leicester, na Inglaterra, anunciaram que uma ossada encontrada no estacionamento da cidade era do rei Ricardo III, um dos mais populares do país. Pesquisas recentes também trouxeram novas informações sobre a vida e a morte de faraós egípcios, como Ramsés III e Tutancâmon.
Agora, a exumação dos restos mortais do imperador D. Pedro I e de suas duas mulheres, as imperatrizes Dona Leopoldina e Dona Amélia, permitiram a historiadores terem acesso a dados inéditos que comporão um retrato mais fidedigno da família imperial brasileira.



As exumações, autorizadas pelos descendentes, são as primeiras em quase 180 anos. As urnas funerárias estão no Parque da Independência, localizado na zona sul de São Paulo, desde 1972. De lá, os restos mortais foram levados para a Faculdade de Medicina da USP, onde foram submetidos a exames de tomografia e ressonância magnética.
Todo o processo foi realizado em sigilo, entre fevereiro e setembro de 2012, e divulgado recentemente pelo jornal “O Estado de S. Paulo”. As análises foram realizadas por uma equipe liderada pela historiadora e arqueóloga Valdirene do Carmo Ambiel.
D. Pedro I foi coroado imperador em 12 de outubro de 1822, após declarar a Independência do Brasil. Ele abdicou do trono em 1831 para retornar a Portugal, onde liderou uma revolta liberal contra seu irmão, D. Miguel.
O imperador morreu três anos depois, em Lisboa, de tuberculose. Em 1972, na comemoração dos 150 anos da Independência, seus despojos foram trasladados para o Brasil e colocados na cripta do Monumento à Independência, situada no Museu do Ipiranga, em São Paulo.
Quedas
O exame da ossada trouxe fatos inéditos sobre o imperador. Descobriu-se que ele tinha quatro costelas fraturadas do lado esquerdo. Os ferimentos confirmam o relato de historiadores a respeito de dois acidentes de quedas de cavalo, sofridos em 1823 e 1829, no Rio de Janeiro. As costelas quebradas comprometeram um dos pulmões de D. Pedro, agravando a tuberculose que o levou à morte aos 36 anos de idade.
D. Pedro I também não era tão alto como se acreditava: media entre 1,66 e 1,73 m, de acordo com estudos de seu esqueleto. As medidas correspondem a uma estatura alta para um português do século 19, mas mediana para os padrões atuais.
O inventário dos objetos encontrados na sepultura do imperador trouxe mais uma surpresa aos historiadores: D. Pedro foi enterrado com fardas e medalhas de general português, sem nenhuma comenda ou insígnia brasileira.
Brigas conjugais
Outra descoberta desmente a versão de que Dona Leopoldina havia fraturado o fêmur ao cair (ou ser derrubada) de uma escada do palácio da Quinta da Boa Vista, no Rio de Janeiro, onde morava a família real.
Exames radiológicos não constataram nenhuma fratura, lançando dúvidas sobre a versão de que D. Pedro I, em um de seus acessos de fúria, teria dado um pontapé na imperatriz, grávida, provocando sua queda na escadaria do palácio. O incidente teria causado, além da fratura, o último aborto da imperatriz e uma infecção que a matou em 1826.
O motivo da briga seria a relação do imperador com a amante Domitila de Castro Canto e Melo, a Marquesa de Santos, a quem nomeara dama de companhia e com quem tinha assumido uma filha.
Outro relato contraditório com os exames preliminares da ossada de Dona Leopoldina diz respeito ao seu aspecto físico. Historiadores, baseados em documentos como cartas, dizem que ela era baixa e gorda. Mas a ossada aponta que, na verdade, ela seria uma mulher magra, fato talvez distorcido por conta de nove gestações consecutivas. Causou espanto ainda a ausência de joias em seu caixão, que continha apenas bijuterias.
Múmia
Mas a maior surpresa dos especialistas aconteceu ao abrirem o caixão da segunda mulher de D. Pedro, Dona Amélia de Leuchtenberg. Eles verificaram que o corpo da imperatriz havia sido mumificado, fato inédito na biografia da segunda mulher de D. Pedro I. O corpo da imperatriz está preservado, ainda que enegrecido, com pele, cabelos, olhos, cílios, unhas e alguns órgãos.
Dona Amélia teve o corpo embalsamado em Lisboa, onde morreu em 1873, com as mais modernas técnicas disponíveis à época. Em 1982, seus restos mortais foram removidos para o Ipiranga. Ela ainda foi colocada no caixão e sarcófago mais bem fechado entre os três da cripta imperial, o que contribuiu para a preservação. Ela foi enterrada toda de preto – guardou luto por 42 anos após a morte do marido.
Estudos detalhados dos restos mortais da família imperial geraram uma imensa quantidade de informações que acrescentarão novos dados e interpretações à história do Brasil. Tecnologias do futuro, como exames de DNA e ressonâncias, levam o homem, paradoxalmente, a enxergar melhor o seu passado.

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